A solução implementada no estado do Mato Grosso por Verdera e CBL visa minimizar os problemas gerados pelo descarte inadequado de pneus, que levam 600 anos para se decompor e podem servir de criadouro para vetores de doenças como dengue, zika e chikungunya. Os pneus inservíveis de carros, motos, caminhões e ônibus são recolhidos em ecopontos em Cuiabá e levados para a unidade, onde são triturados e transformados em chips de borracha. Em seguida, esses chips são destinados na  fábrica da Votorantim Cimentos em Cuiabá, substituindo o coque de petróleo e reduzindo as emissões de CO2.

Essa tecnologia de destinação de resíduos é chamada de coprocessamento e foi trazida de forma pioneira pela Votorantim Cimentos para o Brasil em 1991. Em 2019, a Verdera passou a atuar na cadeia de soluções ambientais dando um novo valor para os resíduos por meio do coprocessamento. O coprocessamento é uma tecnologia utilizada mundialmente como destinação adequada e ambientalmente correta para eliminação de diferentes tipos de resíduos.

Planta de trituração de pneus

A escolha do município de Cuiabá para construção da planta de trituração de pneus foi estratégica porque une a proximidade da destinação final a uma alta geração de pneus inservíveis. Segundo dados dos Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) de 2024, o estado do Mato Grosso possui uma frota de cerca de 2,8 milhões de veículos. “A tecnologia de coprocessamento se consolida como uma aliada estratégica da indústria e das revendas de pneus ao viabilizar soluções em escala para a destinação ambientalmente correta dos inservíveis. É uma parceria que transforma custo ambiental em solução sustentável”, afirma Eduardo Porciuncula, gerente-geral da Verdera.

A planta de trituração de pneus inservíveis da Verdera e da CBL possui 1,2 mil metros quadrados e será a primeira no Brasil a se dedicar exclusivamente à produção do chip de 45 mm, menor que o chip convencional de 70 mm. A menor dimensão reduz o aço e aumenta o poder calorífico na produção industrial, permitindo maior substituição do coque de petróleo e redução das emissões de carbono. “Ao dedicar uma linha exclusiva para o chip 45, mostramos que a borracha descartada pode regressar à indústria não como passivo, mas como insumo premium, rastreável e alinhado às metas climáticas. A unidade amplia nossa capacidade de coleta de pneus, reduz a distância até a destinação e oferece um combustível pronto para uso, fortalecendo toda a cadeia de logística reversa”, diz Renata Murad, diretora de gestão e negócios da CBL.

A operação da planta de trituração de pneus inservíveis da Verdera e da CBL está alinhada à Política Nacional de Resíduos Sólidos e as regulamentações sobre logística reversa de pneus, conforme estabelecido pela Resolução Conama nº 416/2009 e pela Normativa Ibama nº 1/2010. Essas normas proíbem o descarte de pneus em aterros e exigem que para cada pneu novo comercializado para reposição seja garantida a destinação ambientalmente adequada de um pneu inservível. Considerando o desgaste médio de 30%, a meta é de 0,7 tonelada de pneus descartados para cada tonelada comercializada.

A implantação da unidade foi viabilizada em modelo de coinvestimento. A Verdera disponibilizou o terreno e toda a infraestrutura do galpão, enquanto a CBL ficou responsável pela aquisição e instalação dos equipamentos além da coleta de pneus e operação da planta de trituração. A Verdera é líder nacional em coprocessamento e a CBL é líder nacional na destinação ambientalmente adequada de pneus inservíveis e resíduos de borracha. O processo assegura rastreabilidade total e eficiência logística. A nova planta de trituração de pneus inservíveis integra o plano de investimentos de R$ 330 milhões anunciado recentemente pela Votorantim Cimentos para o estado do Mato Grosso. Durante as obras, foram gerados mais de 60 empregos diretos e indiretos. A operação contará com 12 postos de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento local.

Na cerimônia de inauguração desta manhã (3), falaram Caio Marchi, diretor industrial da CBL, Eduardo Porciúncula, gerente-geral da Verdera, Marco Aurélio Ferreira, diretor de Operações Centro-Oeste da Votorantim Cimentos, e Lucas Di Mário Alves, diretor de Adjacências da Votorantim Cimentos.

Foto: Verdera/Divulgação

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Para alcançar a meta da Resolução Conama nº 416/2009 (que dispõe sobre a prevenção à degradação ambiental causada e destinação correta de pneus inservíveis), os que deveriam ser reciclados teriam de ser 712.057,42 toneladas, mas ficou em 691.091,45 t, déficit de 2,94%, ou quase 21 mil toneladas de pneus sem destino adequado.

Reciclagem de pneus

Para sanar tal questão, a Associação Brasileira das Empresas de Reciclagem de Pneus Inservíveis (Abrerpi) e a Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (Abidip) realizam a operação “Brasil Rodando Limpo”, que realiza a logística reversa desses pneus em diversas regiões brasileiras.

Para se ter uma ideia, no mesmo 2022, foram recolhidas mais de 100 toneladas de pneus que estavam jogadas em canteiros de ruas e no entorno de Manaus (área de floresta) e fazendo o transporte do resíduo por mais de 4 mil km até uma recicladora na Região Metropolitana de Curitiba, PR. Atualmente, a capital do Amazonas conta com uma recicladora própria com capacidade produtiva de 600 mil toneladas/ano de trituração de material.

Também é possível encontrar pontos de coleta de pneus em todo o Brasil, neste link

Campanhas de conscientização

Um dos principais produtos feitos com a reciclagem deste produtos são os tapetes anti-impactos usados em academias. Mas outro desdobramento merece destaque: a conscientização à população sobre o descarte correto de pneus. Em janeiro, a realizou o “Dia D de Recolhimento de Pneus”, com caminhões percorrendo seis bairros da cidade, combatendo o criadouro do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, com o recolhimento de 2.067 pneus.

“Essa é uma determinação do prefeito David Almeida e do vice-prefeito Renato Junior, manter Manaus limpa, evitando doenças e melhorando a qualidade de vida da nossa população. Estamos fazendo isso com dedicação, por meio de operações que beneficiam toda a cidade”, afirma Sabá Reis, titular da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp).

Convênio

Representantes da Abrerpi e Abidip participaram de reuniões nas secretarias estaduais de Fazenda e Meio Ambiente do Amazonas, para que o estado seja signatário do convênio CONFAZ 31/2006, cujo objetivo é dar um tratamento diferenciado no recolhimento de ICMS às empresas de asfalto que utilizem a borracha extraída de pneus inservíveis, impulsionando ainda mais a atividade recicladora.

Em Roraima, outro estado que enfrenta dificuldades com a destinação deste material, os deputados estaduais aprovaram no fim de 2024 o Projeto de Lei nº 260/23, que prioriza o uso do asfalto ecológico em obras públicas.

O convênio citado já promove resultados pertinentes aos signatários, sendo o Amapá, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo e o Distrito Federal. Em Minas Gerais, por exemplo houve um aumento em mais de 2.400% o uso de asfalto borracha em obras rodoviárias nos últimos cinco anos, de acordo com a fornecedora de material ao Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER-MG).

O uso desse mecanismo levou à retirada de 1,6 milhão de pneus do meio ambiente.”A utilização do asfalto borracha evidencia a atenção do Governo de Minas com o meio ambiente e com a durabilidade da obra, uma vez que o material garante maior vida útil do pavimento em relação ao asfalto convencional. E isso reduz, por exemplo, a necessidade de reparos na pista”, aponta Rodrigo Tavares, diretor-geral do DER-MG.

“Pode existir uma condicionante à renovação do alvará de funcionamento de estabelecimentos que fazem a troca dos pneus do automóvel, obrigando que comprovem a destinação adequada dos pneus inservíveis”, endossa Ricardo Alípio, presidente da Abidip.

Por Keli Vasconcelos – Jornalista

Foto: Divulgação/Semulsp-Manaus

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Pensando na logística reversa desse produto, entidades e empresas ofertam soluções para a destinação correta. Desde 1999, por meio do Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis, a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), que reúne 11 fabricantes instalados no país, implantou um sistema de coleta e destinação de pneus inservíveis.

Soluções produtivas

Já em 2007, foi criada a Reciclanip, entidade voltada a logística reversa desses materiais, que são coletados e destinados às empresas homologadas pelos órgãos públicos competentes. Os pneus inservíveis são transformados em outros materiais, como combustível alternativo em fornos de cimenteiras ou até mesmo asfalto-borracha.

“O pneu é um produto fabricado para garantir segurança ao consumidor. Consequentemente, é um material muito difícil de ser desfeito e que se mantém inalterado por muitos anos. Por isso é fundamental garantir os processos de coleta e destinação correta”, comenta Klaus Curt Müller, presidente da ANIP.

Exemplos

A Dunlop Pneusé um dos exemplos de propor iniciativas de sustentabilidade já no chão de fábrica. Em seu processo produtivo, manteve a marca de zero resíduos enviados paras aterros, indicador que alcançado em 2022 e mantido estável em 2023, informa a companhia.

Membro da a Reciclanip, a empresa recolheu e destinou de 5,9 milhões de toneladas de pneus inservíveis, o equivalente 1,1 bilhão de pneus de passeio, entre 2001 e 2022. “Nossos resultados reafirmam o compromisso contínuo com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental”, expressaKassielle de Souza Barichello, gerente de Health, Safety&Environment da Sumitomo Rubber do Brasil, empresa responsável pela marca.

Já a Goodyear finalizou recentemente os testes de um novo pneu feito com 90% de materiais reciclados, incluindo arroz e soja. “A previsão é que o novo pneu esteja disponível até 2030, e espera lançar pneus com 70% e 100% de materiais sustentáveis, respectivamente. O objetivo é eliminar completamente o uso de derivados de petróleo na fabricação até 2040”, informa reportagem do site Mundo Conectado.

Por Keli Vasconcelos – Jornalista

Foto: divulgação

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