Energia

Modernização e digitalização: Como a inovação estende a vida das usinas hidrelétricas nacionais

Modernização e digitalização Como a inovação estende a vida das usinas hidrelétricas nacionais - Fitec Tec News

As usinas hidrelétricas, com seus 109 GW de potência instalada, continuam sendo a espinha dorsal da geração elétrica no Brasil. No entanto, muitas dessas gigantes, integradas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), já acumulam décadas de operação, enfrentando desgaste de equipamentos, diminuição da confiabilidade e perdas de eficiência. Diante desse cenário, a modernização e a ampliação da capacidade dessas usinas tornaram-se prioridades estratégicas e regulatórias.

 

Leilão de usinas

Um marco nesse movimento é o Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência (LRCAP), planejado pelo Ministério de Minas e Energia para 2025. O leilão visa contratar a ampliação da potência em usinas já existentes, por meio da instalação de Unidades Geradoras adicionais nos chamados “poços vazios”, estimulando investimentos privados sem a necessidade de construir novas barragens. Embora suspenso temporariamente por questões jurídicas, o LRCAP permanece como uma prioridade para o setor.

Estudos da Associação Brasileira de Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage) revelam um potencial inexplorado gigantesco. “As usinas hidrelétricas poderiam aumentar sua capacidade em 86,4 GW, um salto de 79% sobre a potência atual”, afirma o relatório. Desse montante, 7,4 GW viriam da adição de novas Unidades Geradoras em espaços físicos já existentes de doze usinas, além da ampliação de outras duas hidrelétricas.

Dois exemplos práticos dessa iniciativa são as usinas de Jaguara e São Simão. A UHE Jaguara, construída em 1971, está recebendo um aporte de cerca de R$ 500 milhões para a modernização de suas quatro unidades geradoras e foi aprovada para participar do LRCAP, buscando um aumento de 232,5 MW com duas novas unidades. A UHE São Simão, de 1.710 MW, construída em 1978, passa por um importante processo de modernização em suas seis unidades geradoras, com tecnologia moderna de automação, e também está apta a participar do leilão para ampliar sua capacidade total para 2.020 MW.

 

Engenharia Digital: A Resposta Estratégica para os Desafios

Um dos grandes desafios na preparação de estudos técnicos para os leilões de repotenciação de hidrelétricas, que são estruturas complexas com décadas de operação, é a ausência de documentação atualizada e prazos apertados. É nesse ponto que a engenharia digital surge como uma solução estratégica.

Pedro Lima, líder de Engenharia Digital da Tractebel Brasil, Chile e Canadá, destaca a importância dessa abordagem. “A engenharia digital se consolida como a ponte entre o diagnóstico preciso e a tomada de decisão eficiente. Soluções como escaneamento a laser, Gaussian Splatting, plantas virtuais e a metodologia BIM são aplicadas para obter uma representação fiel da estrutura como ela é hoje, possibilitando a investigação de cada detalhe técnico necessário”, destaca.

A partir dessas representações, são criados modelos digitais tridimensionais inteligentes, que integram informações técnicas, operacionais e espaciais em um único ambiente comum de dados. “Também utilizamos inteligência artificial na análise de dados, imersão nos modelos com óculos de realidade virtual e ambientes colaborativos em nuvem, promovendo um fluxo contínuo entre estudo, projeto e execução”, complementa Lima. Esses modelos são a base para os estudos de engenharia que os leilões exigem, garantindo maior assertividade na definição de escopos, avaliação de viabilidade técnica e mitigação de riscos. O resultado são os gêmeos digitais permanentes, que se tornam ativos estratégicos ao longo da construção, operação e manutenção.

Rafael Cesário, gerente de Projetos da área de Hidroenergia da Tractebel Brasil, Chile e Canadá, enfatiza que a digitalização vai além da tecnologia. “É fundamental ir além do uso de tecnologias prontas. Para um projeto ser bem-sucedido, é necessário desenvolver estratégias personalizadas, avaliando caso a caso quais ferramentas devem ser utilizadas e quais benefícios reais podem ser obtidos. A lógica não é apenas digitalizar — é digitalizar com propósito e inteligência, assegurando ganho de produtividade, rastreabilidade, desempenho e redução de incertezas”, orienta.

A modernização e a ampliação estratégica das hidrelétricas brasileiras, aliadas ao uso inteligente da engenharia digital, representam mais do que soluções técnicas pontuais. “São caminhos sólidos para o fortalecimento sustentável da matriz energética nacional”, pontua Cesário.

Ao investir em projetos de repotenciação e digitalização, o Brasil não apenas otimiza o uso dos recursos hídricos existentes, mas também eleva sua segurança energética e competitividade econômica, abrindo portas para um crescimento mais robusto e ambientalmente responsável. “A união entre inovação tecnológica e visão estratégica será decisiva para enfrentar os desafios energéticos das próximas décadas e garantir um futuro mais sustentável para o país”, afirmam os especialistas.

Foto: Freepik

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