A indústria brasileira encerrou 2024 em um ritmo de retomada, registrando um crescimento de 3,3%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse desempenho, que marca o fim de períodos consecutivos de retração, foi impulsionado principalmente pela indústria de transformação (3,8%) e pela construção civil (4,3%). Entre os pilares estratégicos para essa transformação estão insumos fundamentais para o setor industrial, como o cobre e o alumínio.
“Esse avanço reflete uma reorganização de cadeias produtivas, a adoção de tecnologias de automação e digitalização, e a incorporação gradual de práticas sustentáveis nas estratégias industriais”, avalia Walter Sanches, diretor de TI e Planejamento da Termomecanica. Para ele, 2025 se apresenta como um período de continuidade e aprofundamento dessas transformações, mesmo diante de desafios persistentes no cenário industrial.
Cobre e Alumínio: Insumos Estratégicos no Centro da Transformação
No cerne dessa expansão industrial, dois insumos se destacam: o Cobre e o Alumínio. A crescente demanda por soluções ligadas à transição energética, à mobilidade elétrica, à expansão de data centers e à reestruturação da infraestrutura urbana tem impulsionado o consumo desses metais.
No setor elétrico, por exemplo, o Alumínio é amplamente utilizado em componentes como fios e cabos de transmissão e distribuição de energia, além de barramentos em transformadores a seco. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os projetos de expansão das linhas de transmissão e distribuição garantem uma demanda estável para o Alumínio até, pelo menos, 2027.
O Cobre, por sua vez, com sua alta condutividade elétrica e resistência à corrosão, permanece essencial em diversas aplicações. “Ele vai desde sistemas de tração elétrica em redes de metrô e monotrilho até tubos de refrigeração para os setores industrial, de construção e de tecnologia”, explica Sanches. Em São Paulo, mais de dez projetos de expansão de transporte sobre trilhos demandam o fio de contato de Cobre, o que, somado aos investimentos em eletrificação veicular e infraestrutura digital, tende a sustentar o aumento do consumo do metal em 2025.
Resiliência, Sustentabilidade e o Impacto da Digitalização
No segmento automotivo, incentivos concedidos em 2024 contribuíram para a recuperação da produção, com reflexos esperados na cadeia de suprimentos. A demanda por Cobre e Alumínio, amplamente utilizados em chicotes elétricos, baterias, motores e sistemas de climatização, deve crescer à medida que a transição para veículos eletrificados avança.
A sustentabilidade também ganha força, impulsionando a reciclagem desses metais. “A economia circular, por meio da logística reversa e do reaproveitamento de matéria-prima secundária, tem sido incorporada como prática de redução de custos e adequação às exigências ambientais e de governança, inclusive em contratos com grandes compradores internacionais”, pontua o diretor da Termomecanica.
Outro fator que influencia diretamente a demanda por Cobre e Alumínio é o avanço da digitalização. A construção de data centers, por exemplo, está em plena expansão, impulsionada pelo aumento da demanda por processamento e armazenamento de dados e pela consolidação da computação em nuvem. Segundo a consultoria Gartner, os gastos mundiais com data centers crescerão 15,5% em 2025. Esses empreendimentos exigem uma infraestrutura elétrica robusta, traduzindo-se em maior consumo de Cobre para barramentos, cabos e sistemas de refrigeração, e de Alumínio em sistemas térmicos e de suporte estrutural. A crescente utilização de redes neurais e Inteligência Artificial (IA) também reforça o papel estratégico desses metais condutores.
Desafios e a Agenda ESG para 2025
Apesar do cenário de crescimento, a indústria brasileira enfrenta desafios. A elevação das tarifas de importação dos Estados Unidos sobre produtos de Alumínio (de 10% para 25% em 2025) afeta diretamente a competitividade nacional, podendo pressionar margens e redirecionar produtos estrangeiros para o mercado interno. No plano doméstico, a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em patamares elevados limita investimentos, e a inflação ainda pressiona o poder de compra das famílias, impactando setores como construção civil, automotivo e refrigeração.
Paralelamente, a agenda ESG (Environmental, Social, and Governance) segue em expansão. Empresas mais preparadas já operam com métricas de desempenho ambiental, rastreabilidade de insumos e relatórios de impacto, enquanto outras avançam na adoção de processos de logística reversa e na integração de requisitos regulatórios mais rígidos.
A realização da COP30 em Belém (PA), em novembro de 2025, deverá ampliar o foco internacional sobre a pauta climática e ambiental no Brasil, com implicações para toda a cadeia industrial. “Nesse contexto, o Cobre e o Alumínio possuem um atributo adicional: são metais recicláveis e com propriedades adequadas para aplicações em sistemas energéticos mais eficientes e menos emissores, como redes inteligentes, veículos elétricos e sistemas fotovoltaicos”, ressalta Sanches.
O desempenho industrial de 2024 demonstrou que a combinação de eficiência operacional, novas tecnologias e o uso de matérias-primas estratégicas pode ser decisiva. “A resiliência de parte da indústria de transformação no último ano é um sinal relevante, mas não suficiente. Em 2025, o setor exigirá respostas mais estruturadas”, afirma o diretor da Termomecanica.
Para o futuro, a aposta está em investimentos contínuos. “As empresas que investirem em automação, digitalização, circularidade e integração da cadeia de suprimentos terão melhores condições de enfrentar os obstáculos que ainda persistem”, conclui Sanches. O Cobre, o “combustível do futuro”, e o Alumínio, por sua versatilidade, permanecerão no centro dessa reorganização produtiva, não apenas como insumos, mas como indicadores da capacidade da indústria nacional de responder a um novo ciclo tecnológico e ambiental.
Foto: Termomecanica/Divulgação
