Mudanças Climáticas

Especial COP29: entre impasses e incertezas, Brasil se dedica à promoção de ações em prol do desenvolvimento sustentável

Especial COP29 entre impasses e incertezas, Brasil se dedica à promoção de ações em prol do desenvolvimento sustentável - Fitec Tec News

Autoridades de todo o mundo se reuniram em novembro na cidade de Baku, no Azerbaijão, para a 29ª Conferência das Partes (COP29), com o foco em discutir novas alternativas e soluções para frear o aumento da temperatura global.

Na madrugada de 23 de novembro foi aprovada a nova meta de financiamento climático a ser paga pelos países ricos aos em desenvolvimento até 2035, fechado US$ 300 bilhões. Muito embora pesquisas apontem a necessidade de US$ 1,3 trilhão, esse número gerou uma série de protestos e descontentamento, em especial por parte de países mais vulneráveis, que chegaram a sair das mesas de negociação.

 

Resultados COP29

 

Para Tais Gadea Lara, jornalista climática da Argentina, ao Info Amazônia, essa Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG, na sigla em inglês), exige um salto em investimentos. “Com um detalhe: que os recursos sejam provenientes de todas as fontes, ou seja, não apenas de fundos públicos, mas também de investimentos privados, de fundos multilaterais e de países, independentemente de sua categoria”, frisou.

O certo é que o principal mote, o planeta, não está mais em compasso de espera. A urgência de mudanças retumba, e todos os atores precisam se movimentar no tempo presente para proporcionar um futuro mais sustentável.

Essa também será a pauta norteadora da COP30, prevista para novembro de 2025 em Belém, PA, conforme endossou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em reportagem do Estadão: “É fundamental, sobretudo após a difícil experiência que estamos tendo aqui em Baku, chegar a um resultado minimamente aceitável para todos nós, diante da emergência que estamos vivendo. É fundamental que, antes de chegarmos à COP30, possamos fazer um alinhamento interno; dentro de nossos países e entre nós”, disse a ministra.

A seguir, algumas iniciativas a favor desse movimento, insights adquiridos na COP29 pela cadeia produtiva e o que já é assunto no Brasil:

 

Articulações

 

Durante uma reunião organizada por organizações da sociedade civil na COP29, o movimento pela justiça climática comprometeu-se a manter os esforços para fazer avançar a ação sobre o clima.

Para 350.org, órgão popular global dedicado a acabar com a era dos combustíveis fósseis, a carência de um apoio financeiro das nações ricas continua a obstruir no progresso em adaptar e mitigar tais mudanças, especialmente em regiões mais afetadas pelos impactos climáticos.

“Os países ricos não honraram suas responsabilidades e demonstraram uma falta de disposição para enfrentar este momento. O acordo não conseguiu atingir a ambição necessária, mas a esperança está viva, pelo bem no movimento climático. Já olhamos para o futuro e nos preparando para criar um novo impulso, com uma onda de campanhas e mobilizações focadas em soluções reais para a crise climática”, apontou Namrata Chowdhary, chefe de Engajamento Público do 350.org.

Já para o WWF-Brasil,esse resultado corre o risco de atrasar a ação climática nesse período em que é nítida e crítica a sua aceleração. “Nesse cenário desafiador e de pouco consenso, o Brasil terá um papel determinante em 2025, pressionando por um financiamento climático novo, adicional após o resultado insatisfatório da COP 29. A criação de uma Rota Baku – Belém para preencher o hiato entre o montante estabelecido na COP 29 e o que é demandado pelas nações menos desenvolvidas deixa aberta uma porta à continuidade das negociações, porém pode sobrecarregar a próxima conferência, no Brasil, que já tem diante de si o desafio de elevar a ambição climática das partes”, informou a entidade.

 

COP29 e a Defesa da Amazônia

 

No painel “Protegendo as florestas tropicais através dos mercados de carbono”, entidades do Brasil, de Gana e do Nepal, bem como organizações internacionais, reforçaram o compromisso a valorização das florestas e seus povos, além de discutir o mercado de carbono.

André Guimarães, diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), ressaltou as demandas nos países participantes do debate, como o financiamento à ação climática. “Nós temos desafios que são comuns e é por isso que a formação desta mesa tenta conectar o Sul Global, trazendo experiências que a gente tem na Amazônia, África e Ásia. Quanto mais compartilharmos, mais rápido será o aprendizado e maior será a escala para a conservação de florestas”, disse.

Já Roselyn Fosuah Adjei, ponto focal de REDD+ na Comissão Florestal de Gana, compartilhou o trabalho do governo do país com as comunidades locais em projetos jurisdicionais. “Toda vez que temos um desafio, nos reunimos com essas comunidades locais. É a primeira vez que em Gana encontramos pessoas abrindo contas bancárias, recebendo pagamentos pelos resultados que são capazes de produzir, protegendo terras florestais e praticando agricultura sustentável”, arrematou.

 

Agronegócio

 

Liège Correia, diretora de Sustentabilidade da JBS Brasil, endossou em sua fala durante um dos painéis que o setor privado tem avançado nos últimos anos ao perceber o enorme potencial do Brasil na recuperação de pastagens. Ela explicou que o país tem a capacidade de fazer na mesma área até três safras por ano.

Por exemplo, um mesmo produtor pode plantar o milho e a soja, depois plantar batata e capim, e o boi fazer o papel de colher o pasto plantado como agricultura. “Se levarmos em consideração as áreas degradadas que o país pode recuperar à produção de alimentos, o que também inclui grãos, o potencial do Brasil é gigantesco”, comentou.

No evento, o grupo anunciou a ampliação do programa Escritórios Verdes, criado em 2021 cujo foco é oferecer assistência técnica gratuita e serviços de extensão a fazendeiros que desejam melhorar o desempenho ambiental, com práticas sustentáveis e mais produtividade. “A companhia passa a testar o novo formato do programa em estados em que não atua, como o Maranhão, e também entre produtores de grãos”, enfatizou a especialista.

 

Indústria

 

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) lançou a nova versão da Plataforma Recircula Brasil 2.0 no evento da COP29. A anterior era pioneira no monitoramento do plástico e agora passa a acompanhar, em parceria com a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), a jornada do alumínio reciclado.

A plataforma se baseia na rastreabilidade de resíduos a partir de notas fiscais eletrônicas, registrando desde a origem até a reinserção da matéria-prima na fabricação de novos produtos. “Essa expansão reforça o compromisso com a economia circular e a circularidade de recursos em diferentes indústrias, alinhando-se às metas da política industrial brasileira. Também estamos conversando com outros setores produtivos para ampliar o escopo e apoiar o cumprimento de políticas públicas e compromissos ambientais”, reforçou Talita Daher, gerente da unidade de Nova Economia e Indústria Verde e responsável pelo Recircula Brasil.

A Recircula Brasil já verificou mais de 20 mil toneladas de resíduos plásticos rastreados na indústria nacional e foi reconhecida como modelo de excelência no combate à poluição plástica em documento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (PNUMA/ONU).

 

Descarbonização

 

Durante o painel “Estratégias de descarbonização e apoio à missão 1,5° – papel estratégico do setor privado na transição energética para a descarbonização do Brasil”, no pavilhão do Consórcio da Amazônia na COP29, especialistas concordaram que é preciso uma união estratégica entre setores público e privado.

No contexto da COP29, Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, foi enfática ao afirmar que o setor privado não pode ser apenas provedor de recursos e endossou o diálogo sobre o papel de cada um na descarbonização. “O empresário não vê ganho. Na Europa, 12% das empresas estão se distanciando dos compromissos climáticos”, afirmou a fellow sênior de Mudança do Clima e Uso do solo do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacional).

Para Anderson Baranov, CEO da mineradora Hydro, a companhia tem acelerado o processo de transição energética em toda a cadeia produtiva. “Nós descarbonizamos toda a matriz do óleo, combustível, até o final de 2024, as caldeiras elétricas. São 620 mil toneladas por ano de descarbonização. Redução da própria emissão? Sim, mas é um projeto muito importante”, disse.

 

Economia circular

 

Já no painel “Acelerando a economia circular e a descarbonização da indústria no Brasil”, organizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) em parceria com a ABDI, o foco foi o papel brasileiro em prol da economia circular.

Pedro Prata, oficial de Políticas Públicas na América Latina da Fundação MacArthur, entidade que marcou presença no evento, disse que o painel foi fundamental para destacar o país nesse tema. “O Brasil vê a circularidade como um modelo econômico alternativo, ao compreender que economia circular vai muito além da reciclagem ou da gestão de resíduos: trata-se de uma mudança sistêmica, que impacta como produtos são projetados e fabricados, reduzindo emissões em toda a cadeia. Ainda assim, agora é o momento de transformar essa política em ações concretas”, analisou.

Presente na COP 29, Marcelo Souza, presidente do Instituto Nacional de Economia Circular, enfatizou a importância de tecnologias inovadoras na reciclagem de materiais como polipropileno (PP), plástico metalizado (BOPP) e embalagens longa vida, que frequentemente acabam em aterros devido à baixa valorização no mercado de reciclagem.

“É de extrema importância discutir a implementação de políticas que incentivem a reciclagem desses materiais, fortaleçam a economia circular e integrem práticas sustentáveis nas cadeias produtivas”, informou Souza.

 

Índices e certificações

 

O Carbon Disclosure Project (CDP) e a Global Reporting Initiative (GRI), duas importantes consultorias fornecedoras de índices de sustentabilidade corporativa, assinaram na COP29 um Memorando de Entendimento em que ambas simplificarão a divulgação às empresas, para aumentar o acesso a dados comparáveis por meio de relatórios ambientais.

Com essa atualização, será possível um mapeamento para melhorar a interoperabilidade e uma avaliação do questionário do CDP e dos Padrões Temáticos GRI para mudanças climáticas, água e biodiversidade. “Acredito que essa colaboração levará à clareza sobre o alinhamento entre os Padrões GRI e o questionário do CDP, aumentando a facilidade de relatar de forma a fornecer dados relevantes e acionáveis”, comentou Cristina Gil White, CEO interina da GRI.

Em números, mais de 14 mil organizações globais utilizam os Padrões GRI e 24.800 empresas que representam mais de dois terços da capitalização de mercado global divulgam por meio do CDP. “Ao divulgar por meio do CDP, as empresas podem divulgar dados alinhados à GRI diretamente às partes interessadas e ao mercado global mais amplo”, arrematou Sherry Madera, CEO do CDP.

 

Ações no Brasil

 

No segmento farmacêutico, o Grupo Hypera Pharma passou a ter 100% de seu consumo de energia proveniente de fontes renováveis e em 2023, colocou em operação duas novas subestações de energia elétrica em Goiás, em sua subsidiária Brainfarma.

Já o Complexo Acrílico da BASF em Camaçari, BA, unidade que fabrica insumos para as áreas de adesivos, construção civil, higiene e produtos de pintura, é a primeira unidade de produção da empresa na América do Sul a obter o selo Ccycled®, atestando o uso de matérias-primas sustentáveis por meio da abordagem de balanço de massa, diminuindo a pegada de carbono de seus produtos.

Por Keli Vasconcelos – Jornalista

Foto: CNIweb

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