Cheias, secas extremas, calor e frio excessivos, terremotos, desastres e migração ecológica são apenas uma amostra dos desafios enfrentados por conta da crise climática. Em números, o Banco Mundial estima que 4,5 bilhões de pessoas, mais da metade da população do planeta, corre o risco de ser acometida por circunstâncias semelhantes as ocorridas no Rio Grande do Sul recentemente. Ou seja, as enchentes que causaram um prejuízo de R$ 12,2 bilhões nos municípios afetados no RS, segundo o último relatório da Confederação Nacional de Municípios (CNM).
Para que mais danos sejam evitados é necessário criar ações preventivas e de monitoramento, como meios de absorção e monitoramento de águas pluviais, telhados verdes, áreas permeáveis e parques urbanos inundáveis, além de soluções para evitar acúmulo de resíduos. Outro ponto que deve ser pensado é o resgate da memória perdida nessas tragédias, o que inclui a destinação correta desses resíduos e a recuperação de lembranças, frisa Rodrigo Clemente, CEO da BLZera, empresa especialista em ressignificação do lixo. “É impressionante e triste encontrar entre os detritos objetos que contam histórias de vida interrompidas por uma tragédia. Recolher e tratar esse material é crucial não apenas para a saúde pública, mas também para a dignidade das pessoas afetadas. Entretanto, evitar que situações assim ocorram é o ponto principal”, afirma.
Cidades resilientes
A promoção de cidades resilientes, que estejam preparadas não apenas para a iminência de um fenômeno climático, mas também prontas para demais adaptações estruturais, como calçamentos e passeios públicos acessíveis, oferta de melhor transporte público, segurança, acesso à cultura e lazer, devem ser premissa de todos os atores. “As concentrações urbanas abrigam 61% da população brasileira; e esses indivíduos presenciam as catástrofes de maneira distinta à medida que observamos recortes de gênero, cor e renda”, aponta Rodrigo Carelos de Azeredo, arquiteto e urbanista e mestrando do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“Desse modo, quando testemunhamos eventos extremos, torna-se latente pensar as cidades à luz de sua capacidade de resiliência abrangendo as particularidades desses grupos sociais com a finalidade de produção de um tecido urbano menos desigual.É necessário perceber a complexidade do tema e a transversalidade que as políticas públicas devem abranger de forma contínua, para que o impacto seja mitigado e incorporado ao planejamento e governança”, argumenta o profissional, em artigo a UFRGS.
Já Tatiana Fasolari, CEO do Grupo Fast de engenharia, destaca ainda que atualmente, o mercado precisa criar uma mentalidade coletiva de sustentabilidade e resiliência. “A modernização da construção civil nos permite equilibrar os ambientes urbanos com as necessidades da população. Não adianta realizar um projeto excepcional se ele não terá utilidade a longo prazo. Desta forma, à medida que enfrentamos um mundo cada vez mais suscetível a desastres naturais, a valorização e o investimento nessas estruturas temporárias devem ser prioridades, fortalecendo nossa capacidade de lidar com esses desafios”, reflete a especialista.
Por Keli Vasconcelos – Jornalista
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