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Debate aborda Economia Circular e mostra oportunidades para novo modelo econômico global

Debate aborda Economia Circular e mostra oportunidades para novo modelo econômico global - Fitec Tec News

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) reafirmou seu papel de vanguarda na promoção da economia circular no Brasil durante a reunião virtual do Grupo Desensus, realizada em 22 de maio. A engenheira Anícia Pio, gerente do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Fiesp, proferiu a palestra “Economia Circular: as oportunidades de transição para um novo modelo econômico”, sendo muito elogiada por sua expertise e engajamento neste tema. A engenheira sublinhou a importância de transcender o conceito de reciclagem, impulsionando a inovação e a colaboração para a construção de uma economia mais resiliente e inclusiva.

O Grupo Desensus, formado por 40 membros com experiência em diversas áreas ambientais e que já foram integrantes do Conselho Superior de Meio Ambiente (Cosema) da Fiesp, tem como objetivo central contribuir para a solução de questões ambientais urgentes no país. Na abertura do evento, o coordenador do Desensus, Eduardo San Martin, destacou a relevância do debate sobre Economia Circular nesta reunião. “Para esse mês, a grande maioria dos integrantes do Grupo Desensus escolheu economia circular e, coincidentemente, nós tivemos um evento muito relevante, o Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF), que aconteceu de 13 a 16 de maio, no Parque do Ibirapuera, na capital paulista. O evento é uma iniciativa do Fundo Finlandês de Inovação Sitra, organizado em conjunto com Fiesp, o Senai-SP, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Senai Nacional, no qual a Anícia Pio teve um papel fundamental, então, certamente, ela nos brindará com grandes informações sobre esse tema, que é um dos mais importantes da atualidade: a economia circular”, pontuou San Martin.

 

Transição atende novo modelo econômico global

 

Na sequência, Anícia iniciou sua palestra enfatizando que a economia circular vai muito além da simples reciclagem, representando uma mudança sistêmica nas relações de produção e consumo. “O objetivo central é dissociar a produção de bens da dependência excessiva de recursos naturais e minerais finitos. Para a Fiesp, isso se traduz em redução do consumo de energia e água, menor uso de matéria-prima, diminuição de resíduos e desperdícios, e a retenção de valor ao longo de toda a cadeia produtiva”, informou.

A palestrante ressaltou a urgência dessa transição, mencionando a crescente escassez de recursos como a água, um insumo essencial para a indústria. A descarbonização da economia e a busca por novas matrizes energéticas também foram apontadas como pilares dessa mudança, exigindo uma visão colaborativa e inclusiva. A formalização da cadeia de reciclagem foi citada como um desafio de grande monta, essencial para garantir a segurança jurídica e impulsionar os índices de reaproveitamento de materiais no país. Anícia Pio exemplificou a amplitude do conceito ao abordar a mobilidade circular (com o desafio do pós-uso de baterias em veículos elétricos) e a construção civil (com a necessidade de reduzir as emissões de carbono em materiais como cimento e vidro).

Segundo Anícia Pio, a Fiesp e diversos atores envolvidos com o tema em nível nacional, têm atuado ativamente na construção de um arcabouço legal e institucional favorável à economia circular. A especialista destacou diversas iniciativas e avanços importantes:

  • Normas ISO 59.000: o Brasil coordenou a comissão que resultou na publicação dessas normas internacionais, um guia prático para a implementação da economia circular.
  • Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS): em vigor desde 2010, estabelece a obrigatoriedade da logística reversa para produtos e embalagens.
  • Decretos Setoriais: a palestrante mencionou o recente decreto do vidro, que estabelece metas para a incorporação de material reciclado em novos produtos, e a expectativa para o decreto de plásticos, com objetivos semelhantes.
  • Projeto de Lei 1874/2022: proposto pela CNI, da qual a Fiesp faz parte, este PL visa estabelecer a Política Nacional de Economia Circular em âmbito nacional. Já aprovado no Senado, aguarda tramitação na Câmara dos Deputados.
  • Plano de Transformação Ecológica do Ministério da Fazenda: lançado em dezembro de 2023, o plano possui um eixo específico de economia circular, com ações para ampliação da coleta seletiva e financiamento de iniciativas.
  • Nova Indústria Brasil (NIB) do MIDIC: o plano para a reindustrialização sustentável do país, lançado em janeiro de 2024, incorpora a economia circular em suas missões de infraestrutura, saneamento, moradia, mobilidade sustentável, e bioeconomia, descarbonização e transição energética.
  • Estratégia Nacional de Economia Circular: um decreto federal lançado em junho, que visa incentivar a transição do modelo linear para o circular, oferecendo incentivos e promovendo a articulação entre as cadeias produtivas.
  • Plano Nacional de Economia Circular: lançado durante o Fórum em maio, pela Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria, este plano apresenta cinco eixos estratégicos, 18 objetivos e mais de 70 ações para os próximos 10 anos, incluindo incentivos financeiros.

Fórum Mundial de Economia Circular: um marco para o Brasil

Anícia Pio compartilhou a relevância do Fórum Mundial de Economia Circular 2025, que o Brasil sediou após um ano de preparação intensa. O evento, que reuniu 156 representantes de diversos países e 1.200 participantes presenciais, teve como objetivo elevar o patamar do tema no Brasil e desmistificar a ideia de que a economia circular se resume apenas à reciclagem.

“O fórum destacou pilares fundamentais, como o papel do setor financeiro, a relação entre economia circular e descarbonização (com a COP30 como pano de fundo), o comércio exterior (com o Brasil buscando ser um ator mais relevante na cadeia de valor, e não apenas fornecedor de commodities), e o desenvolvimento sustentável impulsionado pela economia circular”, elencou Anícia.

A palestrante apresentou exemplos concretos de como a economia circular está sendo aplicada no Brasil. Conforme ela, na busca por um futuro mais sustentável, a economia circular se manifesta em diversas frentes, indo muito além da reciclagem. “O Design Circular é fundamental, como exemplificado pelo `Cazoolo´ da Braskem e o livro de Design Circular do Senai, que priorizam a otimização do uso de matéria-prima e o pós-uso dos produtos desde sua concepção”, comentou.

Segundo Anícia Pio, observa-se também a crescente adoção do Produto como Serviço, um modelo de negócio em que empresas vendem a função, e não o item em si (como filtros de água ou iluminação), incentivando o prolongamento da vida útil dos equipamentos e sua reinserção na cadeia produtiva.

“Outro conceito que também ganha destaque é a Simbiose Industrial, que transforma resíduos de uma empresa em matéria-prima para outra, o que otimiza recursos e reduz o descarte”, explicou.

Anícia destacou que o setor também está sendo impulsionado por Tecnologias Inovadoras, com um número crescente de startups dedicadas a soluções de economia circular, demonstrando o vasto potencial de inovação.

Para ela, a Eficiência Energética e Energias Renováveis são pilares da Economia Circular, com a busca por fontes alternativas como a eólica e a solar, além da integração de sistemas de refrigeração e aquecimento, representando vastas oportunidades para a indústria.

“O Prolongamento da Vida Útil e Remanufatura se mostram essenciais, com a retomada de atividades de reparo e recondicionamento de produtos, evitando o descarte. Por fim, a Recuperação de Valor reflete uma mudança de paradigma, em que o que antes era resíduo é agora visto como subproduto, com novas classificações na ABNT, evidenciando o potencial de valor intrínseco aos materiais”, demonstrou a gerente do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Fiesp.

Ela informou ainda que a Fiesp lançou um e-book com 50 melhores práticas de economia circular no Brasil, resultado de uma chamada pública que mapeou mais de 275 iniciativas em diversos setores. O material, disponível para download gratuito, serve como inspiração e guia para empresas que buscam adotar esses novos modelos.

O Fórum Mundial, com suas sessões plenárias e 12 sessões paralelas, abordou temas como natureza (biocombustíveis, floresta em pé, segurança hídrica e alimentar), materiais (mineração e mobilidade urbana), negócios (o papel das pequenas empresas) e pessoas (informalidade na reciclagem e capacitação profissional – reskilling e greenskilling). “A iniciativa de traduzir o fórum para três idiomas (inglês, português e espanhol) demonstrou o compromisso da Fiesp em promover a inclusão e a colaboração internacional”, frisou Anícia Pio.

Ao final da apresentação, os participantes tiveram a oportunidade de aprofundar o debate, por meio de uma sessão interativa de perguntas e respostas com Anícia Pio, que esclareceu dúvidas e compartilhou informações adicionais com o público.

Debate virtual com Anícia Pio e integrantes do Grupo Desensus

 

Foto da abertura: Freepik

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