O Brasil tem um papel essencial no cenário global de sustentabilidade, especialmente em seu setor de transportes, um dos maiores consumidores de combustíveis fósseis do país. A descarbonização não é apenas uma meta ambiental, mas uma estratégia para fortalecer a posição competitiva do Brasil e impulsionar o crescimento econômico de forma sustentável. Neste contexto, o Sistema Transporte, que integra a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o Serviço Social do Transporte e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST SENAT) e o Instituto de Transporte e Logística (ITL), emerge como um protagonista fundamental.
Segundo Vinícius Ladeira, diretor do Sistema Transporte e líder do projeto Transporte e a COP30, a descarbonização no setor de transporte é um desafio complexo, mas também uma oportunidade estratégica para o Brasil fortalecer sua posição no cenário global de sustentabilidade. “A transformação do setor exige um olhar abrangente, focado na diversificação das fontes de energia, na eficiência energética e na melhoria da infraestrutura para o desenvolvimento da multimodalidade”, destaca.
O Brasil se encontra em uma posição ímpar para liderar a transição energética global, graças à sua matriz energética já considerada uma das mais limpas do mundo e à sua expertise em biocombustíveis. “O Brasil ocupa uma posição singular no cenário internacional ao possuir uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e ser referência em biocombustíveis, como o etanol”, afirma Ladeira.
Ele aponta o diesel verde como uma alternativa promissora. “É um combustível cuja composição final é idêntica à do diesel fóssil, porém é oriundo de biomassa e produzido com tecnologia mais avançada”, explica. A grande vantagem é que o diesel verde pode ser usado em todos os caminhões existentes no país, sem a necessidade de alterações no motor, o que facilita sua adoção e gera ganhos ambientais e operacionais.
No entanto, a eletrificação da frota de veículos pesados ainda enfrenta barreiras significativas. “Temos alguns desafios, como o ainda alto custo de aquisição dos veículos elétricos, a infraestrutura de recarga, a autonomia e o tempo de recarga que exigem ajustes na operação”, pondera o diretor. Outros obstáculos incluem a capacitação da mão de obra para a operação e manutenção desses veículos e a necessidade de garantir uma transição tecnologicamente e financeiramente sustentável para o transportador.
O segundo pilar da descarbonização, segundo Ladeira, é a infraestrutura de transporte. “O equilíbrio da matriz modal é essencial. O Sistema Transporte defende que não existe modal concorrente, e sim complementar”, pontua. A multimodalidade — a integração de diferentes modais de transporte — não apenas aumenta a eficiência logística, mas também contribui para a redução de custos e a sustentabilidade ambiental. Em uma colaboração estratégica, a Coalizão pela Descarbonização do Transporte, liderada pelo Sistema Transporte, projeta a necessidade de expandir a participação dos modos ferroviário e aquaviário na matriz de cargas de 31% para 55% até 2050.
Coalizão pela Descarbonização do Transporte
O Sistema Transporte atua como um catalisador da transição energética no Brasil, conectando os principais atores — poder público, setor privado, academia e sociedade civil — para viabilizar soluções concretas e políticas públicas que acelerem a descarbonização.
Uma das frentes de atuação mais importantes é a Coalizão pela Descarbonização do Transporte. A iniciativa, que reúne mais de 50 associações setoriais, empresas e instituições acadêmicas, “propõe 90 ações integradas para reduzir em até 70% as emissões de gases de efeito estufa do setor até 2050 e foi entregue em maio ao governo federal”, segundo Ladeira.
Além disso, o Sistema Transporte contratou um estudo detalhado para a elaboração de um inventário de emissões de todos os modais de transporte — ferroviário, aquaviário, aéreo e terrestre. O objetivo, segundo o diretor, é “produzir estimativas de emissão” que permitirão identificar e direcionar as melhores oportunidades para a redução de emissões. “A partir do relatório será possível promover iniciativas para um balanço negativo de emissões do setor transportador”, projeta.
Outra iniciativa de destaque é o Programa Despoluir. Há 18 anos, ele tem sido um modelo de sucesso na mobilização e conscientização do setor. “Já realizamos mais de 4,9 milhões de avaliações veiculares ambientais, com mais de 55 mil transportadores atendidos”, destaca Ladeira.
Para a COP30 em Belém, o Sistema Transporte planeja uma presença marcante. “Estaremos na COP 30 com a Estação do Desenvolvimento, um hub que reunirá debates técnicos, networking institucional, exposições culturais, shows com artistas locais e experiências amazônidas”, revela Ladeira. Localizada no Porto Futuro, a Estação do Desenvolvimento será uma vitrine para as soluções de mobilidade sustentável e um ponto de encontro para lideranças nacionais e internacionais.
Projetos de Infraestrutura
A descarbonização não se limita aos veículos. Ela abrange a própria infraestrutura de transporte, exigindo investimentos em projetos resilientes, capazes de suportar eventos climáticos extremos. Vinícius Ladeira ressalta a importância de “investimentos em infraestruturas resilientes que reduzam os impactos de eventos climáticos extremos, como já temos vivenciado”. Ele cita as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca na região Norte, que paralisaram operações e causaram prejuízos bilionários.
O Sistema Transporte defende que os projetos de infraestrutura do país devem incluir:
Investimentos obrigatórios em infraestrutura resiliente, como drenagem avançada e materiais mais resistentes.
Planos de contingência e resposta rápida para eventos climáticos extremos.
Implementação de tecnologias preditivas para monitoramento e prevenção de danos estruturais.
Incentivo ao uso de fontes de energia renováveis e redução de emissões nas operações rodoviárias.
Essas medidas trazem impactos econômicos e ambientais positivos. “Rodovias com qualidade ruim, por exemplo, geram um aumento relevante no consumo de combustível, e, consequentemente, de custos para o transportador”, explica o diretor. De acordo com a Pesquisa CNT de Rodovias 2024, um caminhão que trafega em uma rodovia classificada como péssima pode ter sua autonomia reduzida em 14,7%, o que resulta em um aumento de 17,3% nas emissões de CO2 por quilômetro rodado.
Soluções de descarbonização, como sistemas de transporte mais eficientes e rodovias inteligentes com tecnologias como pedágios eletrônicos e pesagem dinâmica, não apenas reduzem congestionamentos e emissões, mas também promovem ganhos de eficiência e competitividade.
A evolução da descarbonização nos próximos anos
Os próximos dez anos serão decisivos para o transporte no Brasil. “A transição energética já começou e tende a se acelerar, impulsionada pela convergência entre inovação tecnológica, políticas públicas e demanda social por sustentabilidade”, afirma Ladeira.
O Sistema Transporte está preparado para impulsionar a adoção de tecnologias inovadoras, como o uso de biocombustíveis avançados (diesel verde, hidrogênio verde), a eletrificação da frota e os investimentos em infraestrutura resiliente. “Estamos preparados para impulsionar tecnologias ao mesmo tempo em que investimos na defesa de investimentos para uma infraestrutura mais resiliente e na capacitação de profissionais para esse novo cenário”, completa o diretor.
A participação na COP30, por meio das iniciativas da Estação do Desenvolvimento, reforça o compromisso do Sistema Transporte em compartilhar conhecimento e atrair investimentos para o Brasil. “Acreditamos que, com planejamento, inovação e parcerias estratégicas, o setor de transporte pode contribuir de forma consistente e contínua com a transição energética no país, combinando crescimento econômico com responsabilidade climática”, conclui Vinícius Ladeira.
